Pré-sal: o que você precisa entender para entrar na briga.

Desde de que o mundo é mundo, e que o homem é homem somos apresentados a constantes episódios relacionados a algum tipo de exploração. Madeira, ouro, pessoas, animais. Países inteiros assistindo suas riquezas exploradas pelos mais imponentes, sua gente sendo escravizada por outras, seus animais sendo tratados como objetos, e o meio ambiente? Ahh coitado dele, apenas doa, doa, doa e doa, permitindo que sua reserva natural seja sugada a toda velocidade, indefeso, assistindo os filhos de sua terra tirando energia de um lugar e liberando em outro. Só que poucas pessoas percebem o quão agressiva está sendo essa transformação, e uma parcela ainda menor da sociedade está verdadeiramente preocupada com suas consequências futuras. A moeda atual e bola da vez, o petróleo, poderoso como nunca, atual principal fonte de combustível do mundo, essa espécie de ouro negro, é a mais nova menina dos olhos de qualquer país emergente que busca de forma incessante uma fonte de energia que venha suprir nossas “necessidades básicas”, com auto suficiência energética e lucrativa. A verdade, porém é uma só: hoje somos incrivelmente dependentes do petróleo como matéria-prima para uma infinidade de produtos e questões. Você consegueria viver sem ele? ou será que somos forçados a achar que não?

Hoje tratamos de um assunto polêmico e que deveria ser de interesse de todos: o pré-sal. Mas então, que tal um aulinha básica sobre o petróleo e o pré-sal? A importância do petróleo vem de muito tempo, esse combustível fóssil de origem orgânica e não renovável é o resultado de anos de soterramento de ambientes marinhos por sedimentos no fundo dos oceanos. O calor e a pressão, somados ao trabalho de bactérias fizeram com que esse material fosse transformado em uma substância viscosa e escura, composta essencialmente de hidrocarbonetos.

Foto: reprodução

Em 1859, o primeiro poço de petróleo era perfurado e foi somente após a invenção do motor à explosão, mais ou menos na segunda revolução industrial, que ele passou a ser usado em grande quantidade. O mundo atual é movido basicamente por petróleo e seus derivados, e a sua importância se dá também pelo fato de não sabermos ao certo até quando ele vai durar, quanto de petróleo ainda temos à disposição, e principalmente pelo fato de suas reservas não serem encontradas em qualquer lugar. Estamos diante um complexo dilema.

Para que seja a principal fonte de movimento de nossa sociedade moderna, esse ouro negro não pode estar em seu estado mais bruto. É necessário que se submeta o petróleo a processos de refino. Através desses, o petróleo em sua forma bruta é aquecido em grandes torres de fracionamento, e de acordo com a temperatura, obtemos seus subprodutos como o óleo diesel, a gasolina, asfalto, solventes, plásticos, etc.. E obviamente portanto, o petróleo é necessário para o “funcionamento” atual do mundo.

Mas o que isso tem a ver com o pré-sal? O pré-sal pode conter uma grande reserva de petróleo de alta qualidade, superior a que usamos hoje em dia. Sua formação é inclusive parecida com a do petróleo pós-sal. Originada de uma rachadura entre dois continentes há mais 100 milhões de anos, esta substância surgiu de um caldo partindo da decomposição de materiais orgânicos que se acumularam, e que ficou enterrado lá no fundo por uma imensa camada de sal e sedimentos. Isso significa que o maior impedimento para o uso do pré-sal é a sua própria extração. Estas reservas estão localizadas abaixo da camada de sal que pode ter cerca de dois quilômetros de espessura. Logo, o petróleo e o gás natural se encontram de cinco a sete mil metros abaixo do nível do mar. Para chegar até ele é necessário perfurar toda a grossa camada de sal.

Na Bacia de Santos, Rio de Janeiro, fica, o que segundo pesquisadores acreditam, a maior reserva do Brasil. Estima-se de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo de qualidade, o que deixaria o país em um patamar bem superior ao que ocupa atualmente na corrida pelo ouro negro. Se levarmos em consideração a projeção feita pelo Ministério de Minas e Energia, esse número pode atingir 150 bilhões de barris, fazendo o Brasil ocupar o 3º lugar no mundo.

Parece incrível, não é mesmo? Mas aí vem a pergunta: tirar dos confins da Terra algo que o planeta levou anos para “soterrar” não parece um pouco estranho e fora de lógica? Extrair todo este petróleo para devolvê-lo para a superfície em uma época onde lutamos tão violentamente para frear o aquecimento global através das mais limpas e menos degradantes ações, parece fazer sentido? Voltar a explorar o petróleo, que é justamente um dos grandes vilões do efeito estufa, empurrando ainda mais novas emissões proveniente da queima de combustível fóssil não parece coerente. A exploração em si já é uma agressão forte à estrutura sob os oceanos, e as possibilidades de vazamentos podem interferir diretamente não só na vida marinha, como em toda a cadeia biológica.

Segundo José Carlos Carvalho Filho, mestrando em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos, o derramamento do petróleo produz muito mais efeitos ao longo prazo. Quando se trata dos impactos ambientais, aves, animais marinhos, e todo o meio de interação com estes sofrem com o contato, ingestão direta ou indireta e até mesmo contaminação de sua cadeia alimentar pelo óleo derramado, provocando danos às suas estruturas físicas e alterações comportamentais.

Os benefícios econômicos para o país são visíveis, mas a que preço?  Falá-se tanto em dinheiro, mas em nenhum momento levantaram a voz para discutir os danos ambientais. Quem realmente vai pagar a conta? Alguém está pensando em longo prazo? Enquanto o Rio tenta brigar pelos seus royalties, quem vai levantar as bandeiras dos animais e de tantos outros pesquisadores que dedicam suas vidas a encontrar fontes de energias renováveis e menos degradantes enquanto descobrimos novas formas de degradar o nosso já tão calejado planeta? Quem vai mostrar para o mundo que é fundamental evitar que o aquecimento médio da Terra ultrapasse os 2º graus Celsius, e que continuar queimando combustíveis fósseis é como dar um tiro no próprio pé? De que adianta termos atitudes mais verdes e pensarmos de forma sustentável quando a grande novidade do momento é continuar fazendo aquilo que queremos evitar, por sabermos que estamose enfrentando uma crise climática sem precedentes? Acorda, Brasil!

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